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Abundância

há 479 semanas

Sempre admirei as pessoas generosas! Simone de Beauvoir dizia que “a verdadeira generosidade existe quando você dá tudo de si e sente como se lhe não tivesse custado nada”. É, de facto, um atributo extraordinário. As pessoas generosas dão, muitas vezes mais do que podem, sem saber porquê (só sabem que lhes dá prazer) e sem esperar um retorno e ainda ficam felizes. É “Fazer bem sem olhar a quem”!

É neste enquadramento que a chamada mentalidade de abundância (versus a mentalidade de escassez) assume uma grande importância. No essencial, as pessoas com mentalidade de abundância acreditam que existem no mundo recursos suficientes para todos, pelo que ninguém têm de perder para outros poderem ganhar. Esta visão positiva da vida origina pessoas generosas, tolerantes, flexíveis, leais e orientadas para as soluções consensuais e para alcançar o sucesso em parceria. Estas pessoas respeitam o direito dos outros a ser e pensar de forma diferente, procuram e reconhecem o melhor naqueles com quem se cruzam, preferem trabalhar em equipa, aceitam as críticas como oportunidades de melhoria e gostam de partilhar, recompensar e celebrar os sucessos. Por tudo isto, vivem a vida de forma feliz, descontraída, sem receios e sem ressentimentos.

Em contraste, as pessoas com mentalidade de escassez têm uma visão egoística da vida, atuando como se tudo o que os outros recebem lhes fosse retirado a eles. Esta forma de estar na vida torna-as mesquinhas, intolerantes, avarentas, céticas, focadas nos problemas (não nas soluções) e orientados para evitar o falhanço e não para alcançar o sucesso. Este tipo de pessoas desconfiam dos outros, vêm as diferenças como ameaças, entendem as críticas como falta de lealdade, têm dificuldade em trabalhar em parceria e em equipa, preferem punir a recompensar e são incapazes de partilhar o sucesso. Como consequência de tudo isto, vivem uma vida ansiosa, avara e, em ultima instância, … infeliz.

Quando este tipo de mentalidades individuais se transforma numa forma de viver colectiva, então são criadas organizações com culturas generosas e organizações com culturas mesquinhas.

As empresas generosas vêm o mercado como um oceano de oportunidades, do qual todos podem tirar benefícios sem haver o risco de se esgotar. Isto leva-as a ter com os seus concorrentes relações de “coopetição”, (mix de competição com cooperação) e a assumir com clientes e parceiros uma postura ganhadora do tipo ”win, win, win”, em que ganha a empresa, ganha o parceiro e ganha o cliente.

São também empresas que investem na criação de valor e que se orientam para o bem colectivo, preocupando-se em actuar de forma ética e em partilhar o seu sucesso com todos os “stackeholders”, incluindo neles, para alem dos accionistas, dos parceiros e dos colaboradores, a sociedade em geral. As suas pessoas são consideradas como membros da equipa em quem se confia e a quem se tem a obrigação de desenvolver, de acordo com o potencial de cada um e das oportunidades da empresa e de recompensar, em função da contribuição de cada um para o resultado colectivo.

Para o fazer, estas empresas investem em ferramentas de gestão de activos humanos e em práticas de liderança que valorizem o melhor que há em cada uma das suas pessoas e que os incentivem a colocar todo o seu talento (especialmente a energia e a criatividade) ao serviço da empresa.

As empresas mesquinhas, por oposição, olham o mercado como um campo de batalha, do qual só pode sair um vencedor e um (ou vários) vencido, esgotando-se em sucessivas batalhas, onde todas as armas são válidas, mesmo as que possam ser eticamente reprováveis. O que importa é o “bottom line”! São também empresas mais focadas em reduzir custos do que em criar valor e que, amiudadamente, sobrevalorizam os seus interesses egoísticos, em desfavor dos interesses dos clientes, que são vistos como meramente instrumentais. Têm muita dificuldade em trabalhar em parceria e mais ainda em partilhar, de forma genuína, o seu sucesso com aqueles que para ele contribuíram, nomeadamente as suas pessoas e os seus parceiros.

Neste tipo de culturas, as pessoas são tratadas como “recursos” e olhadas com desconfiança. São também vistas como um “custo” que convém controlar rigorosamente e minimizar de todas as formas possíveis, mesmo aquelas que de legalidade duvidosa. Gostam de ter pessoas “fiéis”, que “cumpram a sua obrigação” e que não levantem ondas. Criatividade para quê, neste sector não há nada para inventar!

Em suma, a cultura duma organização pode não dar felicidade, mas que ajuda, lá isso ajuda!

Sintra, 3 de Setembro de 2015

José Bancaleiro

Comentário de Pedro Caldeira:
Excelente Acredito vivamente

2015-09-04 19:28:13
Comentário de Adriano Assunção:
Dificilmente encontraria melhor texto para expressar uma opinião com a qual concordo plenamente. Infelizmente há demasiados empresários que insistem em olhar para os Recursos Humanos apenas como centros de custos ainda que por essa razão obtenham sistematicamente maus resultados.

2015-09-07 22:10:53
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