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SRT - Sindroma de Regresso ao Trabalho

há 663 semanas

Eu confesso! À medida que se aproxima o regresso ao trabalho após um período de descanso, o meu corpo vai-me dando sinais claros: começo a ficar nervoso, reactivo, ansioso, impaciente.

Sinceramente, creio que este tipo de “sindroma” acontece, em maior ou menor grau, com a esmagadora maioria das pessoas que exercem uma actividade profissional minimamente exigente e é tanto mais intenso quanto maior é o período de descanso.

Na larga maioria dos casos, estes sintomas poderão ser considerados aceitáveis e consequência duma normal e até salutar pressão exercida por uma actividade profissional absorvente e motivadora. No entanto, quando estes sintomas ultrapassam determ

inados limites e, principalmente, quando eles se prolongam por longos períodos, podem originar doenças do foro psíquico e físico.

O sofrimento provocado pelo regresso ao trabalho é apenas uma das variantes dum fenómeno bastante mais amplo e também mais estudado que é conhecido por “STRESS RELACIONADO COM O TRABALHO” (SRT) cuja gravidade é hoje crescentemente reconhecida. Podemo-lo definir como uma nova forma de sofrimento que se dá quando as exigências colocadas pelo ambiente de trabalho excedem a capacidade dos trabalhadores para as controlarem ou suportarem. Não se trata duma doença, mas quando é intenso e se prolonga por longos períodos de tempo origina problemas de saúde físicos e mentais.

 

Segundo alguns estudos efectuados nos últimos anos, o stress relacionado com o trabalho ocupa, na União Europeia, o segundo lugar (a seguir às dores lombares) entre os problemas de saúde mais frequentemente relacionados com o trabalho, afectando vinte e oito por cento dos trabalhadores e sendo responsável por vinte e cinco por cento do absentismo por motivos de saúde com duração superior a duas semanas.

 

Os factores que mais influenciam o stress relacionado com o trabalho são:

 

·         O grau de exigência das tarefas executadas. Embora a tensão possa ter efeitos positivos ao nível da motivação e do desempenho, quando excede determinados níveis e, principalmente, quando se prolonga no tempo gera insatisfação e stress, podendo tornar-se num motivo de sofrimento e doença.

·          O ambiente físico que envolve a execução de algumas tarefas. O ruído, em especial nos maus “open spaces”, são um exemplo.

·         O controlo (ou, com mais precisão, a falta dele) sobre a forma planear e executar o trabalho é também um motivo de stress.

·         As relações interpessoais, em especial as relações com os chefes. Poucas coisas causam mais stress do que ter de lidar com um chefe abrasivo que não respeita os seus colaboradores. As diversas formas de assédio (moral e sexual, entre outros) são o expoente máximo desta origem de stress.

·          A mudança é, especialmente para determinados tipos de personalidade, um factor de enorme ansiedade e que, quando se prolonga, cria problemas de stress muito intensos.

·        A ambiguidade ou a falta de clareza quanto ao que é esperado profissionalmente de cada um é também motivo de stress para a maioria das pessoas.

·         Por ultimo e em termos globais,a cultura organizacional. De facto, algumas culturas caracterizam-se por criar ambientes de trabalho de enorme e permanente exigência, sem fornecerem os meios adequados para lidar com esse nível de exigência. São os chamados ambientes stressantes.

 

Partindo destas duas dimensões: (i)Nível de apoio (eixo soft) que é dado pela empresa, o qual é muito influenciado pela politica de recursos humanos, em aspectos como a clareza de expectativas, a politica de remunerações, as condições de trabalho, o equilíbrio vida profissional / vida pessoal, etc. (ii) Nível de desafio (eixo hard) que tem a ver com o grau de exigência e a pressão que é exercida pela organização na fixação e no alcance dos objectivos.

A conjugação destas duas dimensões origina quatro ambientes típicos:

·         Ambiente estagnante, em que não existe grande apoio e interesse pelas pessoas, mas também não existe grande pressão profissional. Neste tipo de organizações, as pessoas vão-se triste e passivamente arrastando.

·        Ambiente confortável, em que a exigência é reduzida e os objectivos são perfeitamente alcançáveis, existindo, em simultâneo, um forte investimento no apoio aos colaboradores. Nestes ambientes as pessoas estão razoavelmente satisfeitas, embora poucas estejam verdadeiramente motivadas e felizes.

·         Ambiente stressante, que se caracteriza por pressão profissional muito intensa sem haver uma preocupação de apoio ás pessoas. Normalmente isto significa objectivos muito “puxados”, liderança dura, horários muito alargados, elevada competitividade entre colegas, etc. É, principalmente, neste ambiente que surgem os piores casos de sofrimento e aos quais mais custa regressar, depois de alguns dias de afastamento.

·        Ambiente Energético nos quais os objectivos fixados são desafiantes e a pressão para os alcançar é permanente, mas, em contrapartida, a empresa cria condições para que as pessoas se sintam apoiadas. Neste tipo de culturas, as pessoas sentem o pressão de atingir resultados, mas a forma como é feita faz com que as pessoas tenham motivação para os atingir e tirem disso prazer e satisfação pessoal..

O SRT é mais do que uma sigla para mais um conceito teórico. É verdadeiro sofrimento para milhões de pessoas.

 

Sintra, 27 de Julho de 2007

José Bancaleiro

Comentário de AF:
Concordo plenamente E cd vez é mais frequente principalmente porque as chefias não sabem gerir pessoas e são apenas chefes mas não são líderes nem o sabem ser nem se preocupam em o ser

2011-08-18 12:29:46
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