Medição do Capital Humano
há 918 semanas
ou Como criar o Scorecard de Capital Humano da sua empresa
Data de Publicação: Março 2006
Introdução
Desde há muitos anos que venho sentindo e defendendo, como profissional
da Gestão de Capital Humano, a necessidade de ter elementos
quantitativos que me permitam medir a actividade e os resultados
produzidos pela minha equipa de trabalho e, desta forma, ser um gestor
compreendido e respeitado pelos outros profissionais de gestão que
integram as direcções das Empresas.
Recordo-me que, há bem mais de dez anos, defendi, sem sucesso, a
introdução deste assunto como o tema principal duma das reuniões
periódicas dum grupo de gestores de Recursos Humanos experientes e
evoluídos, chamado “Fórum RH”. Na altura, um dos colegas, discordava da
minha teoria que os gestores de Recursos Humanos deveriam criar
métricas e ter uma linguagem (mais quantitativa) que fosse entendida
pelos outros profissionais da gestão, dizendo que nunca tinha sentido
tal necessidade e, pelo contrário, era exactamente a linguagem “soft”
que nos demarcava, por exemplo, dos financeiros.
Apesar do respeito que me merecem este tipo de opiniões, continuo a
pensar que existe uma diferença abismal entre, a título de mero
exemplo, dizer que “eu acho que os nossos empregados estão
desmotivados” e afirmar que “o índice de motivação da Loja X ou da
unidade fabril Y baixou 20% nos últimos 6 meses”. Na primeira frase é
emitida uma opinião. Na segunda é afirmado um facto concreto . Uma
afirmação sem ser quantificada é apenas uma mera opinião.
A meu ver, um dos grandes problemas da gestão de Recursos Humanos tem
sido exactamente esta linguagem qualitativa traduzida, por falta de
métricas, em meras opiniões, que não é entendida nem respeitada pelos
outros profissionais. Isto explica em muito que, nos nossos dias,
ninguém duvide da importância do Capital Humano para o sucesso das
organizações, mas, simultaneamente, também poucos compreendam como é
que os profissionais de Recursos humanos contribuem para tornar esta
importância em resultados empresariais concretos.
Nos últimos anos a evolução tem sido clara e inequívoca no sentido de
valorizar as métricas no campo da gestão de Recursos Humanos, sendo
hoje um dos temas mais “em moda” nos países onde a gestão é mais
evoluída. Estou convencido que dentro de alguns anos, as competências
na área da medição serão uma condição necessária para qualquer jovem
gestor de Recursos Humanos, não entendendo eles, como era possível ser
gestor profissional de pessoas, sem ter dados e indicadores, isto é, só
com base em “opiniões”.
Esta minha experiência (consubstanciada, por exemplo, num relatório com
dez anos -1990 a 2000- de dados estatísticos e indicadores de gestão de
Recursos Humanos de toda a espécie na Smithkline Beecham Farmacêuca)
aliada ao facto de na minha actividade académica ter aprofundado ao
longo dos últimos cinco anos o tema do “HR Scorecard”, levaram-me a
dedicar algumas horas (muitas mais do que esperava quando comecei) a
pôr no papel um conjunto de ideias que fui consolidando ao longo de
mais de vinte anos de carreira como profissional de gestão do Capital
Humano no mundo empresarial.
São, essencialmente, três os objectivos deste livro. O primeiro é
sensibilizar os profissionais da gestão de Recursos Humanos para a
necessidade, (se querem ser reconhecidos e aceites), de medir a sua
actividade e os resultados do seu trabalho. Por isso, eu digo que o
Scorecard de Capital Humano, é mais do que uma mera ferramenta de
gestão de Recursos Humanos. Neste sentido, ele é uma nova forma de
entender a Gestão de Recursos Humanos, na qual, os seus profissionais
se comprometem com os objectivos da sua organização, definem a sua
contribuição e a medem através de indicadores quantitativos.
O segundo é o de clarificar um conjunto de conceitos ligados á medição
e de partilhar algumas técnicas, forçosamente inacabadas, que darão aos
leitores os conhecimentos base para poderem aplicar e adaptar ás suas
realidades os conceitos teóricos aqui tratados. Neste âmbito,
dedicaremos algumas páginas a realçar a diferença entre os “rácios
tradicionais” (medir por medir) e a criação dum “scorecard” que meça
aquilo que é, verdadeiramente, importante e do qual constem o reduzido
conjunto de medidas chave que efectivamente liguem a Plano estratégico
de Recursos Humanos (People Plan) com o Plano global da Empresa.
O terceiro objectivo do livro é o de fazer dele um manual prático de
medição da gestão do Capital Humano. Para o conseguir seguimos dois
caminhos. Num primeiro momento procurámos encontrar o máximo possível
de indicadores e organizá-los da forma que nos pareceu mais adequada á
realidade dos gestores portugueses. Fiquei com a sensação que havia
sempre alguns em falta, mas também que se não parasse de acrescentar
mais indicadores, não mais terminaria o livro.
O outro caminho, foi o de, partindo dum exemplo específico na Indústria
Farmacêutica, simular a criação dum Scorecard de Capital Humano, do
qual constassem os indicadores estrategicamente mais relevantes para
aquela empresa, naquele momento e naquela situação concreta.
Neste âmbito quero realçar que a construção dum indicador ou dum
sistema de medição está sempre completamente dependente da realidade de
cada organização. Por definição, não há dois “scorecards” iguais em
empresas e realidades e estratégias diferentes. Não encontrará, pois, o
leitor aqui uma resposta que sirva exactamente a sua necessidade.
Encontrará, sim, neste livro muitas ideias e soluções que certamente se
poderão aproximar das suas necessidades, mas que necessitarão sempre
dum trabalho de adaptação à sua realidade e aos seus problemas
específicos. Caber-lhe-á a si este trabalho.
Antes de terminar esta introdução, só mais algumas breves notas sobre aspectos importantes da metodologia seguida.
Existem, entre outras, duas grandes formas de abordar a medição do
Capital Humano: Uma macro, na qual se usam critérios de avaliação que
permitam comparar o nível do Capital Humano de dois países ou regiões.
E uma micro, na qual o objectivo é medir o Capital Humano e as formas
de o gerir a nível duma organização. É neste segundo âmbito que se
situa este livro.
Embora o primeiro nível também me desperte muito interesse, a verdade é
que as duas abordagens são difíceis de conjugar e que considerei que
era no âmbito das organizações / empresas (área na qual estou mais à
vontade) que eu poderia dar uma maior contribuição e também onde havia
maior necessidade de produzir alguma matéria para debater.
Uma das preocupações do livro é adaptá-lo e torná-lo útil para os
gestores de Capital Humano em Portugal e nos nossos dias. Por isso,
mesmo partindo das teorias dos mais conceituados pensadores sobre estas
matérias a nível mundial, tive sempre presente três preocupações:
(a)“Pragmatizar” as teorias, isto é, transformá-las de modo a
tornarem-se em ferramentas capazes de serem aplicadas, (b) tornar
simples o que não necessita de ser complexo e, por último (c) adaptar o
que aqui é defendido à realidade das organizações Portuguesas, mesmo
que tendo sempre presente uma dose de desafio e inovação.
Uma última nota, para dizer que não resisti a ir fazendo uns
comentários e contando umas “estórias” pelo meio, para dar um pouquinho
de cor a esta matéria amenizar as abordagens.
Faço votos que a leitura lhe seja agradável e frutuosa.
José Bancaleiro